Dora Araújo e Faustino Lourenço

«Estava uma linda manhã de sol quando conhecemos a Srª. Dora. Sentada num banco, no largo da Capela de Vila da Rua, mesmo com máscara devidamente colocada para sua proteção, era fácil imaginar o sorriso da Srª. Dora Araújo.

Apresenta-se-nos uma mulher divertida, brincalhona, bem-disposta e disponível para partilhar a sua história de amor com o Sr. Faustino Lourenço.

Nasceu em Vila da Rua, há 85 anos, e sempre por cá viveu.

Toda a vida andou com “a sachola na mão”. Desde criança acompanhava os pais nas terras e foi sempre o que fez. Marcada pela dureza do trabalho e pelas dificuldades em tempos muito complicados, onde até o pão era racionado. Era a Vide que, em criança, ia buscar o pão com a irmã e de onde vinham, muitas vezes, sem nada. Não havia para todos, por causa das limitações impostas por uma guerra que decorria em todo o mundo.

Apesar de referir que a sua memória e a distância dos anos já não lhe permitem lembrar-se bem de como tudo aconteceu, sabe bem todos os pormenores. Será a alegada falta de memória uma desculpa, vergonha, ou mais uma brincadeira desta tão simpática senhora?

Afinal, sabe dizer que era ainda muito nova quando conheceu o jovem Faustino que vivia na aldeia vizinha de Vide.

Entre gargalhadas, confessa que quando começaram a namorar “nem gostava dele”. Os beijos que trocavam eram dados às escondidas. Ninguém beijava à frente dos outros. Eram os bailes que permitiam um contacto mais público, sempre debaixo da vigilância paternal. A liberdade era diferente na época, mas sempre se arranjava uma maneira de fugir à observação, denuncia entre sorrisos.

Na juventude, trabalhava na Quinta da Boavista, onde o jovem Faustino a visitava. Mantiveram o namoro durante 2 anos.

Ainda hoje, em momentos de sossego, se lembra desses tempos.

Era um rapaz muito querido, amoroso e dedicado. Desde o dia em que casaram, aos 18 anos, tiveram sempre um relacionamento muito bom. Sempre com muito carinho, respeito e apego. Tiveram uma verdadeira história de amor, onde todos os momentos foram de felicidade e união.

Destacam-se, no entanto, os momentos do nascimento dos 4 filhos como alturas de superior felicidade. Foram 3 rapazes e 1 menina, os frutos deste casamento.

A filha nasceu 2 anos após o casamento e foi, naquela altura, a “melhor coisa que lhe apareceu na vida”. Seguiram-se 3 rapazes, igualmente fonte de felicidade.

Construiu uma família unida, dedicada e com muito amor com o seu companheiro de vida.

O momento de maior tristeza foi a “partida” do Sr. Faustino, há cerca de 20 anos. Terminou, assim, prematuramente, a história de amor da Srª. Dora e do Sr. Faustino. A história que ainda hoje a faz recordar com saudade os tempos de juventude e as alegrias que viveu.

Ficaram os filhos que a vida fez partir para Lisboa e Porto. Já com 8 netos e 5 bisnetos, a sua história continuará na memória daqueles que a fazem sentir-se amada e a visitam regularmente na sua terra natal. »

 

As histórias foram recolhidas, tratadas e redigidas pelos alunos do 3º Ano TG/TPA da Escola Profissional de Moimenta da Beira, durante as aulas de Português, com o acompanhamento do Professor José Almeida.

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